segunda-feira, 23 de junho de 2008

Carta do Moradores do Pouso da Cajaíba pela educação.

foto: Bruno Carvalho

CARTA DO POVO CAIÇARA DA CAJAÍBA

PEDIMOS SUA AJUDA, PARA CONSTRUIR UMA ESCOLA PARA NOSSAS CRIANÇAS

Os Vilarejos da Cajaíba são Comunidades Tradicionais Caiçaras de muitas gerações. Nosso Povo vive na Costeira do município de Paraty desde o tempo dos Nativos. Neste mesmo lugar, nasceram e criaram os avós dos nossos avós, que eram os índios. E nós também criamos nossos filhos entre a floresta e as cachoeiras, entre as praias e as montanhas, entre o céu e o mar. O mar que ainda nos alimenta, ou do peixe que dá, ou guiando nossos barquinhos a cidade.

Pouso da Cajaíba, Praia Grande da Cajaíba, Calhaus, Ponta da Juatinga, Saco Claro, Saco da Sardinha, Ponta da Rombuda, Martin de Sá, Saco das Anchovas, Cairuçu das Pedras, são nossas Comunidades, que não tem luz, não tem estrada. Falta até Educação. Mas nosso Povo tem uma história para contar. E um sonho tão bonito quanto nossa Natureza.

Antigamente, agente vivia da pesca e da roça. Vivíamos na nossa tradição de respeito e humildade. A Terra dava fartura, e a palavra era Lei. A Terra era de todos. Quem precisasse, construía sua casa, plantava seu alimento, mas ninguém vendia Terra, pois ela não tinha dono. O conhecimento era aprendido no dia a dia do trabalho. O pai mostrava para o filho: “esse é o pé de Ingá Flexa, bom para fazer canoa.” O povo tinha muita saúde, as pessoas viviam 100 anos, só com remédio da mata, e a sabedoria das plantas passadas de avó para neta.

Hoje tudo está mudando e se perdendo no esquecimento. A roça acabou. As atividades tradicionais de plantar mandioca e fazer farinha, só alguns dos mais antigos fazem ainda. A pesca esta acabando. Por causa da pesca predatória dos grandes barcos de fora, o peixe mal dá para comer. O peixe foi trocado pelo miojo, e a banana pelo biscoito. Hoje tudo vem das embalagens do mercado da cidade.

Hoje em dia é muito difícil arrumar trabalho. Não tem um jovem que sabe o que ele quer ser amanha. Antes, agente sabia. Queria se pescador, dava pra ter qualidade de vida. Hoje a pesca não dá futuro. Os jovens não tem mais certeza para saber “amanha, quero ser isso!”. Muitos vão para a cidade atrás de emprego, condições melhores, estudo. Vivemos procurando um meio de sobrevivência, e nos sustentamos com um turismo desordenado de fim de ano.

Muito caiçara já vendeu sua casa, sua terra para gente de fora. Foram embora, buscando algo melhor em Paraty. A cidade é a única opção para os pais que querem que seus filhos completem os estudos, e não passem pelas mesmas dificuldades. Mas lá, só conseguem o básico para sobreviver. Estão lá por necessidade. A criança, que morava na beira da praia, se muda para a periferia de Paraty, morando em condições precárias. A liberdade da brincadeira da roça é trocada pela poluição e violência do dia a dia da favela. Os pais, sufocados pela cidade, pelo aluguel, por contas que antes não existiam.

Nós precisamos capacitar nossos jovens que estão sem ter o que fazer. Mas o estudo aqui só vai até a quarta série. A maioria que fez, só sabe ler e escrever, e muito mal, só o básico. Estamos numa situação desconfortável. E temos pouco apoio de fora. Nem mesmo o supletivo chega aqui.

Somos uma Grande Família. Nós temos uma Grande Tradição. Somos um Povo Caiçara Nativo, Verdadeiro. Temos o conhecimento do Lugar. Conhecimento sobre a pesca, sobre nosso mar. Os saberes da mata nativa, a floresta que existe até hoje porque foi preservada pelos nossos povos. Temos o conhecimento dos costumes de nosso povo caiçara.

E este conhecimento está se acabando. Hoje em dia não tem um menino que sabe a história desse lugar como os avós foram criados. Chega para um menino da praia e pergunta o que é um azul marinho, ele não sabe.

A nossa família, está se partindo. O povo de fora, que compra as terras, trouxe os muros das cidades. Suas casas ficam o ano todo vazia, mas são cercadas, para ninguém entrar. Mas eles entram nos nossos quintais que são abertos. Dizem que a terra do baixo ate o morro é deles. Na Praia Grande, de 23 famílias, hoje só tem duas, o grileiro expulsou todo mundo, até a escolinha fechou. Casa Caiçara não tem muro não. Para nós, o que vale é a palavra. Mas junto do turismo, veio a separação, a luta pela terra, a briga por um trocadinho a mais que o parente. E muitas vezes, esse trocado é gasto tudo em álcool e fumo, ou coisa pior. Hoje vemos os nossos vilarejos tomados pelas drogas.

Mas ainda estamos lutando pelo Futuro de Nossas Crianças!

Precisamos formar pessoas aqui com os valores de antigamente. Com capacitação para viver em igualdade, dentro e fora da comunidade. Aprender a distribuir melhor a renda do lugar, gerar emprego aqui dentro, se dedicar um pelo outro, e ter melhores condições sociais.

Por isso convidamos você a ajudar agente a construir nosso sonho. Realizar com nossas mãos. Vamos construir uma Escola para resgatar a Cultura Caiçara. Trazer Qualidade de Vida para Nosso Povo.

Hoje, é cada um por si, e a Escola vai ajudar a resgatar a tradição de um ajudar o outro. Não se envolvendo com drogas e violência, os jovens vão cuidar mais da Família e da Comunidade.

Vamos construir uma Escola para o Povo daqui ter de onde tirar o próprio sustento, com igualdade. Uma Escola onde se aprende as tradições caiçaras, fazer canoa, remendar rede, contar nossos causos, igual agente fazia quando era criança, mas agora nas aulas de português e matemática. Onde tem o conhecimento do nosso lugar e o de fora, para agente saber se virar na cidade, no mundo, mas principalmente na nossa comunidade.

Queremos uma Escola onde a merenda é feita com alimentos da Comunidade. Criadas pelo trabalho em grupo dos alunos. Nas aulas de historia, plantar mandioca. Nas aulas de biologia, plantar frutas. Os jovens e crianças enquanto estão aprendendo educação, valores humanos, estão tirando seu próprio sustento, seu alimento. E estão trabalhando juntos pela Comunidade.

Essa é a Educação que queremos para o nosso Povo Caiçara da Cajaíba. O Futuro das crianças que estão crescendo, voltando as tradições antigas, e aprendendo as coisas boas dos dias de hoje, como a agroecologia, e a permacultura. Queremos Construir Nossa Melhor História.

Nossas Comunidades juntas têm mais ou menos 150 famílias, uns 400 moradores.

Hoje temos uma lista com 52 nomes, dos mais de 80 jovens e crianças que há muitos anos esperam a 5ª série para continuar seus estudos. E a cada ano mais crianças entram na lista, ou vão embora para Paraty.

A associação de moradores da comunidade do Pouso da cajaíba, juntos com amigos, está montando o projeto de uma Escola Caiçara Ecológica. Uma Escola Pólo Comunitária de 5ª a 8ª série. Por que estamos cansados de esperar!

Pedimos a sua ajuda para realizar nosso Sonho. Essa ajuda pode ser como você puder contribuir, seja através de serviços, doações de materiais, recursos financeiros, ou até mesmo com orações.

Estamos profundamente agradecidos.

Como retribuição, convidamos você para conhecer nossas Comunidades, nossas praias, nosso Paraíso.

FALE CONOSCO:

Francisco Xavier Sobrinho (Presidente da Associação de Moradores do Pouso da Cajaíba): (24) 99011073

Ana Paula (moradora do Pouso da Cajaíba) (24) 98381522

Orelhão do pouso da cajaíba: (24) 33621810 / 33621809

E-mail: pousodacajaiba@gmail.com

Endereço: Pouso da Cajaíba, 2º distrito de Paraty, Paraty, RJ, Brasil.